sábado, 30 de maio de 2009

A moral Kantiana e Jane Austen...

"A moral Kantiana analisada sob o prisma do filme Orgulho e Preconceito" Por Rafael Caminhas - disciplina de Antropologia Filosófica do curso de Filosofia do Centro Universitário Assunção.
O filme Orgulho e Preconceito baseado na obra literária homônima de Jane Austen nos mostra a sociedade do século XVIII, pautada por uma série de costumes e tradições baseadas em uma estrutura tipicamente burguesa, os principais personagens são Elizabeth Bennet, uma bela mulher de 20 anos, possuidora de uma mente ágil e ainda mais “ágil língua” e o senhor Darcy, um rico aristocrata e aparentemente arrogante. Contudo o que nos chama atenção enquanto estudantes de filosofia é exatamente a questão da moral kantiana perceptivelmente presente no personagem do senhor Darcy.


Orgulho e preconceito gira em torno do relacionamento entre Elizabeth e Darcy, ela uma das de cinco irmãs Bennet é inteligente e forte, no decorrer do filme Elizabeth está em uma festa onde sua mãe a senhora Bennet busca desesperadamente casamento para as filhas, fica evidente que sua mãe faz isso para reerguer a propriedade dos Bennet´s, e é nesta festa que Elizabeth encontra pela primeira vez o senhor Darcy, a idéia que ela faz de Darcy é de um homem frio, distante, arrogante. Um típico burguês que só se preocupa com as aparências da sociedade.
Esta opinião um tanto preconceituosa de Elizabeth no entanto não é capaz de impedir que ela se apaixone por Darcy mesmo que em um primeiro momento ela mesma não saiba disso, a esta altura nos perguntamos onde se encontra a moral kantiana em um filme romântico? Para responder tal pergunta é importante sabermos do que se trata a moral kantiana.


Immanuel Kant (1724 -1804) filósofo alemão tem dentre suas obras uma chamada critica da Razão Pratica onde dentre outros temas trata da moral. Esta moral, a moral kantiana baseia-se num princípio formalista de que o que interessa na moralidade de um acto é o respeito à própria lei moral, e não os interesses, fins ou consequências do próprio acto. Uma boa vontade, guiada pela razão age em função de um imperativo categórico que ele chama de dever.
Kant concebe a realidade numénica (realidade absoluta) como inteligível, a qual só pode ser atingida não por uma via teorética, mas por uma via prática, moral. Portanto, a moralidade que é a razão prática tem que ser pura, sem conteúdos sensíveis. Esta pureza inteligível dá-lhe a primazia sobre o conhecimento (razão teórica), no qual o elemento inteligível está necessariamente contaminado pelos dados sensíveis.


Sabendo agora do que trata a moral kantiana respondo a pergunta onde esta moral pode ser encontrada dentro de um filme romântico como Orgulho e Preconceito, o que ocorre é que dentro da narrativa do filme acontecem vários fatos onde evidenciamos a aplicação pratica da moral kantiana, em um deles a irmã mais jovem de Elizabeth, Lizzy Bennet se vê em vias de casar-se com um pretendente de caráter duvidoso o senhor Wickhan, Darcy conhece o rapaz e tem certeza de sua total falta de caráter. Wickhan acaba fugindo com Lizzy e isso pode contribuir para a difamação do nome dos Bennet´s, sendo assim Darcy age contribuindo para o casamento formal de Lizzy e seu pretendente escuso o senhor Wickhan. O interessante de notar aqui é que mesmo com o sentimento de amor que Darcy nutre pela irmã de Lizzy, Elizabeth, o mesmo não revela seu ato e nem mesmo faz questão que saibam de seu envolvimento no caso, o que acontece aqui é uma manifestação categórica do agir pelo dever de Kant, não são os objetivos pessoais que movem Darcy a tomar esta atitude, é a total aceitação do dever moral de não permitir que o nome dos Bennet´s seja desonrado por uma união não oficial.


Concluído minha explanação entre o filme Orgulho e Preconceito e a moral kantiana não posso deixar de citar uma dúvida que permeou todo processo de realização deste trabalho, esta dúvida coloca em cheque todo discurso envolvido dentro da concepção de relação entre a moral de Kant e a obra de Jane Austen (Orgulho e Preconceito), mas para explicita-la melhor terei de recorrer novamente a Kant, lembro-me de que o importante na moralidade de um acto é o respeito à própria lei moral, e não os interesses, fins ou consequências do próprio acto, sabemos que Darcy é apaixonado por Elizabeth teria ele agido neste caso (o envolvimento de Lizzy com Wickhan), por respeito ao dever ou sob o julgo do amor que sentia por Elizabeth? Pois no segundo caso ele Darcy estaria agindo conforme o dever e não pelo dever, e sendo assim Darcy não poderia ser considerado um sujeito verdadeiramente moral sob aspectos kantianos, pois ele age mesmo que levado pelo amor conforme o dever e não pelo dever.

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