quinta-feira, 12 de junho de 2008

Os benefícios da solidão


Por Douglas Tufano
A solidão parece não ter lugar no mundo de hoje. Muita gente, aliás, parece ficar apavorada à simples idéia da solidão. A propaganda nos bombardeia enfiando em nossa cabeça que o bom é sair para se divertir com os outros, é ir a baladas junto com centenas de outras pessoas, misturar-se à multidão, cantar, dançar e beber até esquecer-se de tudo, inclusive (e principalmente) de si mesmo. Parece que se alguém prefere ficar sozinho, é porque tem algum problema. Atualmente, para a maioria das pessoas, solidão não combina com felicidade.
E, no entanto, isso me parece um grande equívoco.

Querer ficar sozinho, sair da agitação frenética da diversão barulhenta para recolher-se no silêncio de um quarto, para ler, ouvir música suave e pensar é um sintoma de saúde mental, pois precisamos desses momentos de recolhimento para escapar da roda-viva massacrante do quotidiano.

Hoje em dia, entretanto, tudo conspira contra a solidão. Se vamos a um hotel-fazenda, por exemplo, logo aparecem os monitores de lazer que querem nos obrigar a participar de brincadeiras, jogos, gincanas. Se você diz que quer ficar sossegado num canto, apreciando a paisagem, eles fazem cara de espanto. Não admitem que alguém possa se sentir bem assim. E lá vão eles arrastando as pessoas para a diversão obrigatória! E é assim também que vamos acostumando as crianças, inculcando nelas a falsa idéia de que só no meio da bagunça e da agitação é que se pode ser feliz e curtir a vida.

Um filósofo americano chamado Santayana escreveu: "A educação para a vida deveria incluir aulas de solidão." Realmente, aprendemos muito com a solidão, que não se confunde com a tristeza nem com o isolamento. Ficar sozinho não significa ficar triste ou melancólico, não é um desejo de isolar-se para fugir dos outros. Tirar um momento para ficar sozinho significa extrair prazer da própria companhia, abrir espaço para a reflexão, reencontrar o próprio ritmo. É preciso desconfiar daqueles que temem a solidão. Esses, sim, devem ter algum problema, pois evitam desesperadamente ficar a sós consigo mesmos, como se fugissem de algo ameaçador. Muitas vezes, aliás, são justamente as pessoas tristes que procuram a multidão, fingindo acreditar que aquela agitação toda é sinônimo de autêntica felicidade ou alegria.

A solidão nos disciplina, incutindo um senso de recolhimento que nos ajuda a ordenar os pensamentos, a clarear as idéias. Podemos ler calmamente um livro e "conversar" com seu autor, concordando ou discordando dele. Podemos ouvir música e "viajar", em gostosos devaneios. Podemos simplesmente ficar em silêncio e meditar, pensando na vida. No entanto, um jovem que trocar uma balada de sábado à noite por um momento de solidão em seu quarto provoca enorme espanto nos colegas e até na própria família! Todos o olham como se fosse um extraterrestre. Mas querer fazer isso é absolutamente normal e necessário. É sintoma de amadurecimento. Poder estar sozinho por algum tempo é o momento precioso que temos para curtir nossa individualidade, para mergulhar em nosso mundo interior. Esse tipo de solidão nos revigora para a convivência com os outros e nos ajuda a entender melhor o que se passa à nossa volta.


Douglas Tufano nasceu na cidade de São Paulo em 1948. Formado em Letras e Pedagogia pela USP, dedica-se ao magistério desde 1969.
Foi professor efetivo da rede oficial de ensino de São Paulo e trabalhou também em escolas particulares, tendo lecionado Português, Literatura Brasileira e História da Arte.
Atualmente, ministra cursos de capacitação para professores de todo o Brasil, a convite de Secretarias de Educação e instituições particulares de ensino.
É autor de vários livros didáticos e paradidáticos, publicados por diversas editoras do Brasil.
Tem monitorado grupos em visitas didáticas a museus de arte no Brasil e no exterior.

artigo originalmente publicado em http://douglastufano.multiply.com/

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